CONVERSAS COM A NUDEZ E A BOCA DO INFERNO: FEMME PAYSAGE

[o CONSTRUTIVISMO DO DESEJO]





[Gilles Delleuze] +
Charles Baudelaire, Les Fleus du Mal, Invitación au voyage



Mais uma história...
gravada no dia 1 de Setembro, celebrando a morte do meu pai, desta vez com uma narrativa donde tento manifestar e reflectir 
sobre a vulnerabilidade do corpo nu na gestão do amor romântico, do desejo e do apego, a narrativa da feminilidade e da 
masculinidade, e a sua contingente violência. Este texto foi inspirado nas leituras dos nossos/as mestres/as Eugénio de Andrade,
 Carlos Drummond de Andrade, Natalia Coreia e as Três Marias, muito conhecidos/as pelos seus poemas de natureza erótica.







Por entre pensamentos largos feitos verbos… por entre palavras intercaladas de um rio…que quando pára, morre na boca de 
um peixe… mais uma imaculada necessidade de crescer em paz.

De onde provem esse crescer com raiz?? E essa grande necessidade territorial de ser gente?

Vagueio no rio do riso e dos sons que afluem mais uma vez ao encontro do devaneio do desejo e da certeza de ser paixão crua,
 nnnua de ar. Contudo transparente em fluidos e rugosos ruídos…que…sem medo ou irreal incerteza se aprisionam em perdões 
na loucura, da entrega de corpos rasgados pelo calor do suor.

De certo que muitos e muitas já usaram estas palavras enroladas de tacto. Mas não tenho receio de ser idiota e repetitiva. 
Todavia, desde que te faça viajar por dentro e para além de mim; como viajante de muitas cidades dentro do mesmo abrigo 
de chão, com dez pedras na mão, para marcar um caminho último, de dez passos no semblante do esquecimento do caminho 
de volta.
Na espera…
enquanto mordo os lábios na busca do ardor, perco-me na poética da tela  dos corvos que buscam visão de ouro por entre 
essas 
mesmas pedras… pedras, que mais não são leves reproduções do ascendente, que podemos concretizar juntos, sentados 
na berma 
da entrada de uma cidade… quente… com cheiros quentes… com sabores quentes… e … secos… e... frágeis como o pó.

E, mesmo consciente da ciência da sociedade, como ela se enrola desbotada e viciada na sua própria a priori razão. Tornamo-nos 
também nós, engano e engenho, como flores carnívoras que vivem na ilusão do controle subterrâneo e submarino da lei.
Irónico?!
Ali a noite e o dia se confundem no esperar…
No bater e bater
Da respiração no ar.
Porém, o eco devolve à ânsia (de um dar em continuação ao desejo), buscando sentido a esta fábula inconclusa, que existe 
unicamente para exaltar o redivivo amor, que de memória-imagem, se alimenta. E então, através do espaço… aliás perde-se 
no espaço.

Magistrada pela garra, pela juba e pelo pêlo amaciado de uma velha leoa, os ritmos dos passos da aproximação e das curvas 
de ambos, fundem a sensação de que o corpo soube se impor à contingência…

Mas é pura mentira, pois esta união é do ar e da água salgada por entre os dentes, e é do pão em migalhas!
Ali a natureza grita apavorante porque a sensualidade se dilui… acende faíscas no desejo… E tudo o que a nudez fala, a 
torna ainda
 mais bela- em cada centímetro de carne, ui…uma satisfação de luxo erótico. Aqui a beleza é redundância, pois ela alonga-se 
em silêncio. Não tem decifração possível! No silêncio, há sorriso, que pela primeira vez, não nos alucina. Porque ora conversa
 junto à nudez, 
ora equilibra o caos da dúvida, num segundo, como sábio.
E assim, disfarçados como ponte, árvore ou canoa, se ignora a tudo ao que está e permanecerá bem
longe do agora.
E assim se vive a liberdade alheia aos limites…

Vagueio sempre pelo constante aprumo do movimento….
As palavras repetem-se porque não existem outros sons noutras línguas que cresçam sem controlo
como estas. E face ao bloqueio acidental do erros e da cornucópia da imaginação…realizo-me em plena observação… 
que espelha este 
ímpio sussurrar ardente de um dia sem vento.
Explodem as ditaduras das angústias e o que fica? Mel.
Mel
Anis…
E a delícia do delicado sommm da menta paralisada na ponta da língua, deleite da experiência de ser livre e madura e rouca 
e sóbria 
de tudo o que é obtuso e se desenrola no constante perdão desta existência. 
Bebo bêbada.
Na orla da manhã, apenas saboreio chocolate com baunilha…num beijo… num beijo…Fixo-me na arritmia...~na ponta dos meus 
dedos…que me provocam ondas e tumultos na direcção dos meus pensamentos.
Quebro com o frio da prosa da mão e… toco! Toco-te e toco-me (só para ter a certeza que é real!)
Ai..E no embaraço da política do real, enfio os pés pelos sentidos e os sentidos pelas mãos… corto a voz à oratória com o fim de 
recortar o verbo do pensamento.
E o que fiz? O que quis.
Com esta pausa da memória num conflituoso enlaço entre acreditar no que se vê, pois é compartilhável e comestível, e aquilo que 
não fala: o verde das folhas tenras e fiéis às árvores, resistem ao terror do controlo. Da pressão de ser fruto pois é comestível. 
E tal como elas, verdes de veias de oxigénio e de clorofila… estes dedos não se extinguem. Tal como o trigo, tal como o arroz… 
alimentam-nos de… curam-nos a fome. Como girassóis à procura do sol… os dedos também buscam.
E mudando de assunto...
Já te sentiste enrugado como o ferro?
E diz-me… E como âncora de cacau preso no fundo da terra? Ou como canavial e azeite na pata de um pássaro?
E como vinho na boca de um Deus?
Assim já o foste?
Como bagas de melancia entre os dentes, abraçadas em exalto louvor da língua salgada.
Foste enquanto corpo nu, em busca de superar o desafio da vergonha. És enquanto essência de ser única. 
Serás enquanto fores amado.
E explica-me, conversa comigo sobre o som: pois eu só oiço o respirar do ar. O resto é incógnito!
Por-favor...
Escreve na pele o sentido inverso à música. Escreve na testa: liberdade. Colhe dos calos das mãos histórias de perdão. 
Encosta-te na parede do céu e não vás trabalhar. Mendiga o eco do silêncio, mas não te alimentes de mais nada senão de ar. 
Cresce com o tempo, envelhece mesmo… mas não te deixes aprisionar. Sê encanto para teu próprio espanto e jamais deixes de 
amar.

Mais uma carta a São Pedro
Praia de São Pedro de Moel, Praia do Calhau,
Na Boca do Inferno




A APOTEOSIS DE UM CALHAU POIS AS ESTÁTUAS TAMBÉM MORREM

Preliminares:

As expressões e os nomes utilizados para as figuras femininas e masculinas provêm
de expressões portuguesas idiomáticas coloquiais que retratam características de entidades
 construídas historicamente  e outras oralmente. Muitas vezes utilizadas pejorativamente ou
 humoristicamente, mas com grandes conotações negativas em termos de género ou
herança social. Aqui pretendo retratar essas personagens do povo como deuses animistas pré-agrícolas de
 pedra e cal e a ferro e fogo. Calhaus deusificados/as ou seja deificados por apoteosis.
E igualmente contar a história da pedra...do chão, pois segundo diz um bom amigo..."o primeiro
acto de amor foi o Big Bang". Pois de facto, nós e o espetrum do cosmos somos feitos dos mesmos
 elementos, nada mais que pó de calhau de estrela em movimentação entrópica.



Apoteosis



O Mapa Astral de um Calhau



O Calhau



Os Calhaus




O Segredo da Lesma





Arrear o Calhau




A Sopa da Pedra



Linguagem Pré-Agricola




O Mata Bicho




A Besta



O Aquele que trabalha muito e com muito sacrifício



O Pingareiro



O Chuleco


Os Tranglomangos


 

A Nau Catrineta e o síndroma de Ulisses



A Aquela que dá muito e com muito sacrifício



A Maria das Dores



A Nheira

 

A Alcoviteira



A Beata


A Madragôa




A Nossa Senhora da Asneira




As Estátuas também morrem.


A Cantaria é a pedra talhada de forma a construir sólidos geométricos, normalmente paralelepípedos, para a utilização na construção de edifícios, esculturas ou de muros e calçadas. Os profissionais que talham a pedra denominam-se Canteiros/as.

MASTERCLASS SCÁLABIS PRINTSHOP

A construção do Prazer e a Reportagem do silêncio

































Obrigado ao maestro Mário José Ribeiro da Tipografia Scálabis 
Scálabis- Santarém


E

PORQUE SOMOS SCALABITANOS


Hoje vou contar-vos a origem do nome de Scalabis, que deu origem ao nome escalabitanos ou scalabitanos, com que os naturais de Santarém, são também conhecidos a par do nome de santarenos.

Conta-se que muito antes dos romanos chegaram á Península Ibérica, havia um lindo reino nesta região banhada pelo rio Tejo, de campos floridos e florestas frondosas, cujo rei se chamava Gorgoris.

Os seus habitantes dedicavam-se á caça e á agricultura e o seu rei que também era conhecido por Melícola, dedicava-se á produção de mel, cujo segredo lhe tinha sido ensinado pelos deuses, pelo que de todas as terras mesmo distantes vinham pessoas atraídas pela fama de Melícola e das suas abelhas.

Um dia uma grande armada comandada pelo herói grego Ulisses subiu o Tejo, em busca de mel, e ancorou em frente ás belas praias onde a princesa Calipso, filha de Melícola, passeava com as suas amigas.

Atraído pela beleza da bela princesa Ulisses esqueceu-se da sua missão e ficou por ali passeando e namorando com a bela princesa pelas florestas e campos daquele reino encantado.

Mas uns caçadores viram-nos e foram dizer ao rei o que se passava, que zangado por saber que Calipso tinha um estrangeiro como namorado, mandou os seus soldados expulsaram os gregos.

Só que Calipso estava grávida e ficou muito triste e desgostosa com a atitude de seu pai. Quando o seu filho nasceu, deu-lhe o nome de Abidis e verificou que ele tinha um sinal de nascença num braço com o desenho de uma rosa vermelha.

Mas o rei mandou que colocassem o bebé numa cesta de vime e fosse atirada ao Tejo. Como a maré estava a subir do lado do mar, a cesta subiu o rio e encalhou numa praia junto a um prado onde uma manada de veados pastava. Uma corça aproximou-se e começou a amamentar o bebé, que assim foi criado pelos animais do bosque e foi crescendo e vivendo na floresta, até ser um jovem bonito e forte.

Vinte anos se tinham entretanto passado e o velho rei estava doente e á beira da morte sem ter um herdeiro para o trono, pois Calipso nunca tinha casado e não tinha mais filhos.

Gorgoris andava desesperado e Calipso que nunca tinha recuperado do desgosto, andava muito doente, quando vieram dizer-lhe que um belo jovem vivia na floresta com os animais selvagens.

O rei mandou que o fossem buscar, e Calipso reconheceu nele o seu filho Abidis, pela marca da rosa no seu braço e muito feliz abraçou-o chorando. Então o velho Melícola arrependido, pediu perdão á sua filha e neto e nomeou-o herdeiro do trono.

Reconhecido aos animais que o tinham criado, Abidis fundou uma cidade naquele lugar a que chamou Esca Abidis, que significa Manjar de Abidis, que foi depois chamada Scalabis e Scalabicastrum no tempo dos romanos.

Camões imortalizou esse nome nos Lusíadas, conforme podem ver na fotografia inclusa, onde em azulejo está transcrita a estrofe referente a Santarém, a velha Scalabis de Abidis, a minha cidade.


ARRAIOLOS NO CALHAU: intervensão textil no espaço natural


INTERVENÇÃO GEOLOGIOGRÁFICA

-estudo dos pontos e nós tradicionais portugueses bordados em Arraiolos
-estudo geológico das formações rochosas da praia do Calhau de São Pedro de Moel
- em busca de fosseis - idade Pré.carbónica
-estudo da luz e sombra
-10x mosaicos quadrados de manta graça 10cm x 10 cm
-bordado monocromático em Lã de Arraiolos